É um total contra-senso o fato de que, num mundo em que cerca de 16 a 40% das pessoas em geral sofrem de insônia, haja aquelas que, iludidas pelos valores da sociedade industrial, esforçam-se por reduzir o número de horas de sono diário. Com isso acreditam, provavelmente, que um corpo "treinado" para dormir menos nos permita ampliar o número de "horas úteis" do dia, mantendo o mesmo desempenho
Pura ilusão ou, mais provavelmente, uma boa dose de
ignorância sobre a importância que o sono tem no funcionamento de nosso corpo e
da nossa mente.
Dormir não é apenas uma
necessidade de descanso mental e físico: durante o sono ocorrem vários
processos metabólicos que, se alterados, podem afetar o equilíbrio de
todo o organismo a curto, médio e, mesmo, a longo prazo.
Estudos provam que quem dorme
menos do que o necessário tem menor vigor físico, envelhece mais precocemente,
está mais propenso a infecções, à obesidade, à hipertensão e ao diabetes.
Alguns fatos comprovados por
pesquisas podem nos dar uma idéia da importância que tem o sono no nosso
desempenho físico e mental. Por exemplo, num estudo realizado pela Universidade
de Stanford, EUA, indivíduos que não dormiam há 19 horas foram submetidos a
testes de atenção. Constatou-se que eles cometeram mais erros do que pessoas com
0,8 g de álcool no sangue - quantidade equivalente a três doses de uísque.
Igualmente, tomografias computadorizadas do cérebro de jovens privados de sono
mostram redução do metabolismo nas regiões frontais (responsáveis pela
capacidade de planejar e de executar tarefas) e no cerebelo (responsável pela
coordenação motora). Esse processo leva a dificuldades na capacidade de
acumular conhecimento e alterações do humor, comprometendo a criatividade, a
atenção, a memória e o equilíbrio.
O sono e os hormônios
A longo prazo, a privação do
sono pode comprometer seriamente a saúde, uma vez que é durante o sono que são
produzidos alguns hormônios que desempenham papéis vitais no funcionamento de
nosso organismo. Por exemplo, o pico de produção do hormônio do crescimento
(também conhecido como GH, de sua sigla em inglês, Growth Hormone) ocorre
durante a primeira fase do sono profundo, aproximadamente meia hora após uma
pessoa dormir.
As Fases do Sono
Fase 1
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Melatonina é liberada, induzindo o
sono(sonolência)
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Fase
2
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Diminuem os ritmos cardíaco e respiratório, (sono
leve) relaxam-se os músculos e cai a temperatura corporal
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Fases 3 e 4
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Pico de liberação do GH e da leptina; cortisol
começa (sono profundo) a ser liberado até atingir seu pico, no início da
manhã
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Sono REM
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Sigla em inglês para movimento rápido dos olhos,
é o pico da atividade cerebral, quando ocorrem os sonhos. O relaxamento
muscular atinge o máximo, voltam a aumentar as freqüências cardíaca e
respiratória.
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Qual é o papel do GH? Entre outras funções, ele ajuda a
manter o tônus muscular, evita o acúmulo de gordura, melhora o desempenho
físico e combate a osteoporose. Estudos provam que pessoas que dormem pouco
reduzem o tempo de sono profundo e, em conseqüência, a fabricação do hormônio
do crescimento.
A leptina, hormônio capaz de controlar a sensação de
saciedade, também é secretada durante o sono. Pessoas que permanecem acordadas
por períodos superiores ao recomendado produzem menores quantidades de leptina.
Resultado: o corpo sente necessidade de ingerir maiores quantidades de
carboidratos.
Com
a redução das horas de sono, a probabilidade de desenvolver diabetes também
aumenta. A falta de sono inibe a produção de insulina (hormônio que retira o
açúcar do sangue) pelo pâncreas, além de elevar a quantidade de cortisol, o
hormônio do estresse, que tem efeitos contrários aos da insulina, fazendo com
que se eleve a taxa de glicose (açúcar) no sangue, o que pode levar a um estado
pré-diabético ou, mesmo, ao diabetes propriamente dito. Num estudo, homens que
dormiram apenas quatro horas por noite, durante uma semana, passaram a
apresentar intolerância à glicose (estado pré-diabético).
Mas
qual é a quantidade ideal de horas de sono? Embora essa necessidade seja uma
característica individual, a média da população adulta necessita de 7 a 8 horas
de sono diárias. Falando em crianças, é especialmente importante que seja
respeitado um período de 9 a 11 horas de sono, uma vez que, quando elas não
dormem o suficiente, ficam irritadiças, além de terem comprometimento de seu
crescimento (devido ao problema já mencionado sobre a diminuição do hormônio do
crescimento), do aprendizado e da concentração.
É
na escola que os primeiros sintomas da falta de sono são percebidos. O
desempenho cai e a criança pode até ser equivocadamente diagnosticada como
hiperativa, em função da irritabilidade e de sua dificuldade de concentração,
conseqüentes da falta do sono necessário. É no sono REM, quando acontecem os
sonhos, que as coisas que foram aprendidas durante o dia são processadas e
armazenadas. Se alguém, adulto ou criança, dorme menos que o necessário, sua
memória de curto prazo não é adequadamente processada e a pessoa não consegue
transformar em conhecimento aquilo que foi aprendido. Em outras palavras: se
alguém - adulto ou criança - não dorme o tempo necessário, tem muita
dificuldade para aprender coisas novas.
Riscos
provocados pela falta de sono a curto prazo: cansaço e sonolência durante o dia, irritabilidade,
alterações repentinas de humor, perda da memória de fatos recentes,
comprometimento da criatividade, redução da capacidade de planejar e executar,
lentidão do raciocínio, desatenção e dificuldade de concentração.
Riscos
provocados pela falta de sono a longo prazo: falta de vigor físico, envelhecimento precoce, diminuição
do tônus muscular, comprometimento do sistema imunológico, tendência a
desenvolver obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e gastro-intestinais
e perda crônica da memória.
Fonte: Regeane Trabulsi Cronfli - Endocrinologista.
Dra: Cristiane Schmitz
Nutricionista CRN 3403
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